Jararaca e Ratinho



 

 

Cantores. Compositores. Humoristas.

José Luis Rodrigues Calazans, Jararaca - Macéio, AL - 29/9/1896 - Rio de Janeiro, RJ - 11/10/1977

Severino Rangel de Carvalho, Ratinho - Itabaiana, PB -13/4/1896 - Duque de Caxias, RJ - 8/9/1972


O pai de José Luis, o Jararaca, era o professor e poeta Ernesto Alves Rodrigues e foi quem cuidou de seu

aprendizado escolar. Teve sua primeira viola aos oito anos de idade. Desde criança mostrava tendências à

criação musical e humorística. Por volta de 1915, criou um grupo teatral na cidade de Piranhas.

Apresentavam-se em palco improvisado. Severino Rangel, o Ratinho, foi criado pelos tios. Sua tia, D. Neném,

foi a principal incentivadora de sua arte musical. Quando ainda menino tocava na banda de música de

Itabaiana. Em 1914, foi para Recife e no ano seguinte, era oboísta da Orquestra Sinfônica da cidade.

Tocava pistom e saxofone. Deu aulas de música na Escola de Aprendizes do Recife. Em 1919, a futura

dupla se conheceu na casa de Filinto de Moraes, onde se reuniam expoentes da música popular e valores

nascentes. Nesse período integraram o Bloco dos Boêmios e começaram a tocar juntos. Formaram o grupo

"Os Boêmios". Em 1921, o grupo "Os Boêmios" apresentou-se para completar o show dos "Oito Batutas",

no Cassino Moderno, interpretando a embolada "Espingarda pá", de José Luis Rodrigues, que ainda não

era o Jararaca. A música agradou a Pixinguinha, que passou a incluí-la no seu repertório. O conjunto

"Os Boêmios" transformou-se em "Os Turunas Pernambucanos" . Cada componente adotou o nome de

um bicho como nome artístico. Jararaca declarou ao MIS (Museu da Imagem e do Som) que aqueles

tipos de apelidos baseados em nomes da fauna brasileira eram comuns no Nordeste. O conjunto fez

uma excursão de um mês percorrendo o interior nordestino até a Bahia, antes de viajar para o Rio de

Janeiro por incentivo de Pixinguinha. Chegaram ao Rio de Janeiro em abril de 1922. Na capital da

República participaram dos eventos comemorativos do centenário de Independência do Brasil.

Apresentaram-se primeiramente no Cine Teatro Beira-Mar, com músicas de autoria de Jararaca

e Ratinho, vestidos com trajes simples e chapéu de cangaceiros. Com o sucesso alcançado, foram

convidados a se exibir na sala de espera do Cine Palais. Ainda em 1922, Jararaca gravou a embolada

"A espingarda pa" pela Odeon com acompanhamento de Manuel Pedro dos Santos e Turunas

Pernambucanos. Em 1923, gravou o samba sertanejo "Vamos s’imbora Maria", também pela Odeon

e com acompanhamento de Baiano e dos Turunas Pernambucanos. Em seguida, o grupo foi em excursão

a Buenos Aires apresentando-se em teatros e festas particulares. Na capital argentina o conjunto

se dispersou. Jararaca e Ratinho rumaram para Montevidéu. Mantiveram os nomes na dupla que surgia.

Na capital uruguaia exibiram-se com agrado do público no Café Rio Branco. Encerrada a temporada,

Jararaca seguiu sozinho para o Sul, onde excursionou, e Ratinho continuou em Montevidéu,

tocando em uma orquestra local. Tornaram a se encontrar ainda na capital do Uruguai onde se

apresentaram numa orquestra com Ratinho no saxofone e Jararaca no banjo. Em 1927, a dupla

começou a atuar oficialmente na reabertura do Teatro Santa Helena, em São Paulo. Nesse período

uniram-se a Cornélio Pires numa demorada excursão pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais e

região Sul do país. Estilizaram-se na forma de dupla caipira paulista. Separaram-se por breve

período em 1928, mesmo ano em que Jararaca editou o livro "Do sertão". Ratinho ficou no Sul

trabalhando com o artista caipira Jeca Tatu. Jararaca retornou ao Rio de Janeiro e começou a

trabalhar no teatro de revistas. Em 1929, Jararaca estreou na revista "Guerra ao mosquito". Ainda

no mesmo ano e já com a participação de Ratinho, tomaram parte nas revistas "Onde está o gato?",

"Mineiro com botas" e "Por conta do Bonifácio". No mesmo ano, Jararaca e seu Grupo gravaram pela

Odeon o samba "Baiana", feito em parceria com Luperce Miranda. Em 1930, Ratinho gravou

pela Columbia dois discos com João Pernambuco. O primeiro teve "Catirina" e "Meu noivado",

com interpretação de Ratinho com música de João Pernambuco e versos do folclore. No segundo

as músicas de João Pernambuco e versos do folclore estavam nas emboladas "Perigando" e

"ABC", ambas cantadas por Ratinho. No mesmo ano, estrearam no cinema com o filme "Coisas

nossas", produzido pelo americano Wallace Downey. No final de 1931, Jararaca e Ratinho fundaram

a "Casa de Caboclo", juntamente com Duque, Pixinguinha e Dercy Gonçalves, cujo objetivo era

criar a "Casa da Canção Nacional". Na "Casa de Caboclo", Jararaca e Ratinho apresentaram vários

shows de música nordestina e atuaram em diversas peças, entre as quais "Viva as muié", "Alma de

caboclo" e "Sodade de caboclo". Gravaram pela Columbia o coco dobrado "Acende a luz" .

No ano de 1933, filmaram "A voz do carnaval", dirigido por Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro.

Em 1935, juntamente com Duque e outros artistas, seguiram para a Argentina onde se

apresentaram no Calle Corrientes com casa repleta. Em 1936, a dupla separou-se outra vez.

Ratinho foi com sua própria Companhia Regional de Burletas, Comédias e Revuettes excursionar

pelo Nordeste. Jararaca continuou com a Casa de Caboclo no Teatro Trianon, na Companhia

Jararaca. Em janeiro de 1937, foi lançada a marcha "Mamãe eu quero", de Jararaca e Vicente

Paiva, pela Odeon, que se tornaria um dos maiores sucessos do carvanal carioca em todos os

tempos. A marcha seria um dos primeiros sucessos brasileiros nos Estados Unidos, com

tradução para o inglês na voz de Bing Crosby. Foi incluída no repertório de Carmen Miranda,

que a cantaria no filme "Serenata tropical" de 1940. Nas eleições de 1946, Jararaca compôs

uma paródia da marcha, propagandeando candidatos do Partido Comunista. No final da década

de 1930, a dupla começou a atuar no Cassino da Urca. Em 1939, ingressam na Rádio Mayrink

Veiga. Em 1941, apresentaram-se no Grill-Room do Cassino Copacabana. Em 1944, apresentaram

a peça "Esta terra é nossa", de autoria da própria dupla, no Teatro Recreio. Pela Odeon, gravam

"Fado de beijos", "Família complicada", "Foi bom te vê", "Me leva baiana", entre outras.

Participaram do filme "Romance proibido", de Adhemar Gonzaga. Saíram da Rádio Tupi em julho

de 1948, iniciando logo a seguir uma excursão pelo Norte/Nordeste com início em Belém. No fim

da turnê a dupla se desentendeu e Ratinho retornou sozinho ao Rio de Janeiro, ingressando na

Rádio Nacional. Em 1949, Jararaca editou seu segundo livro, "João e Maria". Em julho de 1951,

a dupla tornou a se formar. Passaram a trabalhar duas vezes na semana, uma na Rádio Tupi e

outra na Rádio Tamoio. Uma vez por semana faziam programa na TV Tupi em São Paulo. Jararaca

editou seu terceiro livro, "Musa do Bernardino". Em 1955, retornaram para a Rádio Nacional onde

estrearam o programa "Jararaca e Ratinho". Na mesma Rádio apresentavam também "A lira de

xopotó", que apresentava bandinhas do interior. Em 1957, a dupla estreou a peça "É do furrundu"

no Teatro Carlos Gomes. Em 1960, Jararaca gravou pela Copacabana a marcha "Ai Teodora".

Gravaram também pela Copacabana o LP "Jararaca e Ratinho". No mesmo ano, estrearam no Teatro

São Jorge a burleta "Por que me ufano de Bananal". Em 1964, Jararaca foi demitido da Rádio

Nacional por motivos políticos. Ele era comunista e muito amigo de Luis Carlos Prestes,

secretário-geral do PCB. Jararaca costumava discursar e cantar nos comícios do Partido Comunista,

trocando muitas vezes seus compromissos profissionais pelos políticos. Em 1970, fizeram seu

último filme, "Salário mínimo", produzido e dirigido por Adhemar Gonzaga. Em 1972, a dupla

foi homenageada com o prêmio "Imortais do carnaval". Na televisão, Jararaca e Ratinho

atuaram nos programas, "A E I O Urca" e "Flávio Cavalcanti", pela TV Tupi e "Balança mas não

cai", "Uau" e "Alô, Brasil, aquele abraço", pela TV Globo. Nos últimos meses de sua vida,

Jararaca trabalhou no programa "Chico City", na Rede Globo, no papel do cangaceiro Sucuri.

Em 11 de outubro de 1977, o jornal "The Daily News" publicou obituário com a morte de Jararaca,

apresentando-o como famoso compositor gravado por Bing Crosby e Carmen Miranda.

Em 1979, Elis Regina gravou pela Philips "O boto", parceria de Jararaca e Tom Jobim. Em 1983

a Funarte reeditou o LP de 1960 que sairia em CD, em 1999 com o selo Atração, do Instituto

Cultural Itaú.

 

Texto retirado do endereço

http://www.dicionariompb.com.br/detalhe.asp?nome=Jararaca+e+Ratinho&tabela=T_FORM_E&qdetalhe=his

 

Voltar